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Falando em termos de comunicação social, e em comparação com o que se faz por essa Europa ou pelo mundo fora, é evidente que existe uma certa suburbanidade no jornalismo português, mormente no que concerne à comunicação televisiva! Enquanto por essas bandas lá pela estranja os senhores profissionais do ecrã se mostram claramente à vontade frente aos seus entrevistados e os tratam muito simplesmente pelos seus respetivos nomes de Família – (Sr. Macron – França; Sr. Biden – EUA; Sr.ª Merkel – Alemanha etc…) os pivôs dos nossos canais desfazem-se em mil… ridículas vénias e só se ajeitam a tratar os seus anfitriões com a “muleta” de Eng.º ou Dr., mesmo sabendo que a esmagadora maioria deles não passam de “doutores-da-mula-ruça” – ou mesmo de engenheiros de aviário e de obras feitas!

Por incrível que pareça, até Ricardo Araújo Pereira, no seu cómico pograma “Isto é gozar com quem trabalha” sofre desse tipo de moléstia, visto usar essa espécie de tique jornalístico com os seus entrevistados! Mas entre os políticos a “estória” repete-se no dia-a-dia! Ainda não há muito tempo, numa dessas frequentes entrevistas a um dos canais da nossa TV, se ouviu o Sr. PM António Costa tratar por Sr.ª Dr.ª a respetiva jornalista que conduzia o dito programa!

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Os portugueses mais bem informados sabem perfeitamente que, por uma questão de respeito e ancestralidade cívica, se convencionou chamar doutor apenas ao nosso Médico ou Advogado. Por isso mesmo, tanto Rui Rio, como António Costa, Passos Coelho e milhares de outros políticos e gestores não são propriamente doutores de coisa nenhuma, pois eles são apenas licenciados em cada uma das suas respetivas áreas académicas. A bem dizer, na política ativa atual, estou em crer que apenas poderíamos chamar Doutor a Marcelo Rebelo de Sousa, visto possuir um verdadeiro doutoramento e ter sido catedrático de Direito Constitucional!

Este estranho compadrio doutorítico fartamente celebrizado entre a classe jornalística e política demonstra-nos e faz-nos pensar que neste preciso capítulo também muitos desses “atores” se comportam como autênticos campónios, e a fazer-nos crer que, apesar de alguma modernidade que por aqui existe, continuamos a ter pessoas que pensam ainda em termos dum “povo-que-lava-no-rio”!

Alfredo Martins Guedes

15/Fev/2021

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